Caio Bonfim conquista o bicampeonato do circuito mundial de marcha atlética
Aos 27 anos, Lucas Mazzo chega à sua primeira Olimpíada. O marchador representará o Brasil na prova de 20km, assim como Caio Bonfim e Matheus Corrêa. Para celebrar a participação nos Jogos de Tóquio, Mazzo, que tem visão monocular, encomendou duas próteses oculares temáticas, com as cores da bandeira brasileira. Uma delas já está sendo usada na Vila Olímpica e nos treinos. A outra terá a estreia durante a prova, no próximo dia 5, e é uma surpresa.
– Como vim para a Olimpíada, nada melhor do que representar meu país nos olhos, né?! No olho, melhor dizendo. Quem fez as próteses foi o Fabio Padula, um cara que mudou minha vida, porque eu achava que ficaria para sempre com um olho ruim, sem ter essa estética. Mas o Fabio é um artista dos olhos e criou uma prótese espetacular para mim, que é a que uso no dia a dia. Quem vê acha que o olho é real. Para os Jogos, ele preparou dois olhos especiais! Estão perfeitos! Ficaram incríveis, nunca vi algo parecido na vida. O Fabio também ficou bem feliz quando viu o resultado. Já estou usando um deles aqui em Tóquio. O outro, vou usar na competição, então vai ficar como surpresa. Mas também é representando a nossa nação, representando o nosso Brasil – explicou Mazzo em exclusiva ao ge.
Lucas Mazzo perdeu o olho direito em 2009, quando tinha 15 anos, após levar um tiro de paintball – jogo em que os participantes atiram bolinhas de tinta.
– Passei por três cirurgias de reconstrução do globo ocular, o arco zigomático quebrou, a pálpebra rasgou, então tive que passar por várias cirurgias para poder deixar uma estética um pouco melhor. Hoje, utilizo uma prótese ocular. Quando eu era mais jovem, ficava um pouco receoso de falar para os outros, porque eu não queria que sentissem dó de mim. Para mim, o pior sentimento que existe é o de pena, e eu não quero que sintam isso de mim – disse o marchador.
Segundo Mazzo, o principal desafio de ser um atleta monocular é a diminuição da percepção de profundidade, que pode gerar pequenos empecilhos nas competições.
– Na hidratação durante a prova, sempre tenho que ficar do lado direito, porque não enxergo deste lado e é justamente onde nossa hidratação é feita. Então, tenho que ir sempre com as duas mãos: uma para encostar e sentir a localização da água e, com a outra, pego a garrafinha, senão vou agarrar o ar, ou a garrafa vai cair no chão. Além disso, também acho que às vezes dou umas cotoveladinhas, ou piso no pé de alguém sem querer, porque realmente não estou enxergando – exemplificou.
Hóspede de Caio Bonfim
Desde 2019, Lucas Mazzo treina ao lado de Caio Bonfim, maior nome da marcha atlética no Brasil. Os técnicos dos dois atletas olímpicos são João Sena e Gianetti Bonfim, pais de Caio. Contudo, apesar de representar o CASO Atletismo nas competições – projeto social de Sena em Sobradinho (DF) – Mazzo mora em São Caetano do Sul (SP). O marchador viaja constantemente para o Distrito Federal para treinar, onde fica hospedado nas casas do treinador e de Caio.
– Vou ser sincero: como fui criado em São Caetano, eu gostaria de poder representar minha cidade. Quando eu era juvenil, eu a representei durante dois anos. Infelizmente, depois, não tive mais incentivo da cidade e tive que buscar novos ares. Então, o Caio, meu amigo, falou: “Mazzo, vem pro CASO! Você vai gostar, você vai se dar bem”. E Brasília me abraçou! Parecia que eu já era morador do Distrito Federal! Sobradinho me acolheu, a família Sena me abraçou de um jeito tão incrível, que sempre que eu vou para lá eu me sinto em casa. Os treinos fluem, eu me sinto muito bem. Se eu não tivesse ido treinar com o João Sena e com o Caio, com certeza eu não estaria representando o Brasil nas Olimpíadas – contou.